Risco de seca põe produtor de soja em alerta
Fronteira Oeste, Noroeste e Norte do RS estão há quase um mês com insuficiência de chuvas
A estiagem de cerca de 30 dias que ocorre na metade do território do Rio Grande do Sul é motivo de preocupação para a cultura da soja e do milho. A falta de água já colocou em alerta as lavouras do agricultor Glênio Luís Soldera, localizadas em Tupanciretã, Joia e São Miguel das Missões. Conforme Soldera, quem plantou milho no sequeiro ainda vai fazer uma boa safra.
“O nosso problema no Centro do Estado é a soja”, desabafou, destacando que calcula perdas de 50% nas suas áreas de plantio. “Em São Miguel eu já abandonei 400 hectares dos 2 mil semeados”, afirmou.
O produtor diz que a cada dia a situação se torna mais desesperadora. “Estou com problema de água para o gado, as pastagens secaram, já está um perigo o fogo”, pontuou, ao lembrar que Tupanciretã é o maior produtor de soja do Rio Grande do Sul.
O engenheiro agrônomo do Núcleo de Desenvolvimento Agropecuário da Emater/RS-Ascar, Alencar Rugeri, reconhece que há perdas nas lavouras de milho e soja, mas ainda é cedo para uma projeção.
“Um quarto da área das lavouras que foram plantadas mais cedo, em tese na região Noroeste, estão em enchimento e floração e essa é a que mais preocupa. Tudo depende do que vai acontecer daqui para a frente, pois estão em desenvolvimento vegetativo ainda”, analisa.
O agrônomo e produtor, José Domingos, entretanto, já começou a fazer projeções das perdas. Segundo ele, o potencial atual da safra de soja por hectare é de 1.200 quilos. “Se não chover nós vamos ter um decréscimo de 35 quilos por dia”, calcula.
“A soja que foi semeada de 15 de outubro a 15 de novembro corresponde a 42% das lavouras do (grão) Estado e é essa que (a estiagem) está impactando diretamente”, explica. Domingos recorda que já são três anos de estiagem no verão e a perda da safra de inverno.
“O impacto na economia do Estado, de novo, será de bilhões. Muita gente vai parar e não temos agricultores no banco de reserva”, afirmou. Em seus cálculos, a repercussão negativa para o Estado será da ordem de R$ 140 bilhões em função das perdas de soja e milho.
Conforme o Informativo Conjuntural da Emater-Ascar/RS, de 9 de janeiro, na Fronteira Oeste, Noroeste e Norte a ausência de chuvas paralisou a atividade nas lavouras de soja. A escassez de chuvas na Fronteira Oeste está causando perdas significativas e impedindo a conclusão do plantio das lavouras mais tardias.
Muitas áreas semeadas em dezembro apresentam tanto problemas devido a falhas na germinação, provocadas pela falta de umidade, quanto de tombamento após a emergência, causado pelas altas temperaturas. Em Erechim, 20% das áreas estão em fase de formação de vagens/início do enchimento de grãos. A germinação da soja plantada na reserva de trigo e de cevada foi melhor. Contudo, há preocupação quanto à escassez de umidade nessa fase crítica da cultura. Ontem, a Fetag-RS fez uma reunião por videoconferência com a diretoria da federação e a coordenação das 23 regionais sindicais para avaliar a situação da estiagem no Estado. Relatos de impactos já sentidos em diversas regiões aumentam a preocupação com o cenário climático.
Uma nova reunião, com local ainda a ser definido, ocorrerá no final do mês para atualização e definição de medidas que serão cobradas dos governos.
“Na quinta-feira, estivemos com o ministro Paulo Teixeira, que apresentou balanços de 2024, e reforçamos nossa preocupação para a safra de 2025. Se a agricultura familiar tiver mais perdas por causa da estiagem, enfrentaremos um cenário gravíssimo”, advertiu o vice-presidente da Fetag, Eugênio Zanetti.
Segundo o dirigente, os governos precisarão agir rapidamente, em especial no que se refere ao Proagro, que precisa ser fortalecido e não desmontado, pois oferece garantias ao agricultor, evitando que ele fique endividado.
Doenças
Conforme o agrônomo e difusor técnico da Cotrijal, Leodário Montemezzo, os insetos têm sido outro motivo de preocupação nas lavouras de soja. Nas regiões com clima extremamente seco, devem ser o foco, especialmente tripes e ácaros.
“Em áreas onde foi necessário cancelar as aplicações de fungicidas, o produtor precisa continuar com o manejo de inseticidas”, alerta.
Em contrapartida, nas regiões com bastante precipitações de chuvas e temperaturas amenas ao longo de dezembro do ano passado os cuidados são outros. Essas circunstâncias, conforme Montemezzo, também foram propícias para a ferrugem-asiática, uma das principais doenças da cultura.
A patologia já está disseminada no Rio Grande do Sul, com oito ocorrências registradas até o momento, de acordo com o Consórcio Antiferrugem. Na região de atuação da Cotrijal, a doença se estabeleceu no final de dezembro.
“Temos um programa de monitoramento da doença e percebemos que existe uma pequena quantidade de esporos sendo coletada semanalmente aliada a uma boa condição de clima em várias regiões de atuação da cooperativa. E temos também o hospedeiro, que é a própria planta de soja, fechando o triângulo da doença”, explica
A incidência e o manejo da ferrugem dependem do clima de cada localidade. Nas áreas mais ao norte da região de atuação da cooperativa, que registraram chuvas regulares e seguem mantendo alto potencial produtivo, as condições de umidade e temperatura estão propícias para a ferrugem, que está inoculada e se desenvolvendo. Já nas regiões central e sul, a falta prolongada de chuvas está desacelerando a evolução da ferrugem e, com isso, o desenvolvimento da doença pode até mesmo cessar.
Além da ferrugem, outras doenças que também podem afetar a soja devem ser monitoradas. Nesta safra, que começou com chuvas regulares e agora registra redução das precipitações, é preciso ficar atento às doenças de final de ciclo. “Esses fungos estão na palhada e no solo. Nas primeiras chuvas, quando a soja estava no período vegetativo, eles já entraram na planta. Portanto, é importante manter algumas aplicações visando doenças de final de ciclo para que não tenhamos problemas ao final da cultura com essas doenças, digamos, secundárias”, recomenda o difusor técnico da Cotrijal.
Comments