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UFSM abre investigação após alunas denunciarem casos de assédio sexual no curso de Odontologia

A vítima relatou ter sofrido assédio por parte de um paciente durante atendimento realizado em uma das clínicas de odontologia

Foto: UFSM

Uma aluna do curso de Odontologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) denunciou à instituição um caso de abuso sexual que teria sofrido por parte de um paciente durante atendimento realizado em uma das clínicas de odontologia. A estudante comunicou a direção do Centro de Ciências da Saúde (CCS) sobre o assédio no início de novembro, após registrar Boletim de Ocorrência na Polícia Civil. A partir da formalização da denúncia, a Reitoria da universidade tomou conhecimento do caso. Conforme a vice-reitora Martha Adaime, ouvida pela reportagem do Diário de Santa Maria, em casos de assédio é criada uma comissão para investigar o caso. Esses episódios não estariam ligados apenas a pacientes. Há casos em que professores também seriam suspeitos de assediar alunas.


Assédio em clínica odontológica


O episódio relatado pela estudante apareceu publicamente pela primeira vez em uma nota divulgada nas redes sociais do Diretório Acadêmico de Odontologia (DAO) da UFSM, em 16 de dezembro do ano passado. No texto, o DAO cita “atos de assédio sexual e importunação ocorridos no curso”.

A partir da publicação, o Diário ouviu quatro alunas que relataram violências sexuais no ambiente acadêmico. Para preservar a identidade das envolvidas, elas não serão identificadas. No caso citado pela nota do DAO, a vítima excluiu as redes sociais e não atendeu aos contatos feitos pela reportagem.


O assédio teria sido praticado por um paciente homem que já havia frequentado a clínica odontológica anteriormente e teria sido suspenso pelo mesmo motivo. Conforme explica uma ex-aluna do curso ouvida pelo Diário, devido à digitalização do sistema de cadastro dos pacientes, o nome do homem teria sido apagado e ele acabou voltando a frequentar uma das clínicas.


– Ele fez isso novamente com a aluna que estava atendendo. Chegou ao ponto de esperar a menina sair para o estacionamento da faculdade pegar o carro e ele ficava olhando. Adicionava na internet, mandava mensagem via WhatsApp e, agora, quando expuseram o caso dessa aluna que foi assediada, mais alunas falaram que estavam sendo assediadas. Elas têm medo de colocar a cara – relata.


Já outra estudante da Odontologia dá mais detalhes sobre o que teria ocorrido. Segundo ela, após a aluna ter denunciado o assédio do paciente para os professores responsáveis, a coordenação teria trocado o paciente de dupla, mas sem suspender os atendimentos a esse homem. Assim, o suspeito de assediar estudantes teria continuado a circular pela universidade.


– Parece que o estopim de tudo foi quando o paciente falou que não queria deitar na cadeira, e sim deitar nos seios dela porque era mais “fofos” – revela a aluna.


Casos são recorrentes


Segundo as alunas ouvidas, os casos de assédio sexual são recorrentes no curso de Odontologia. Durante os atendimentos em clínica – atividade obrigatória em que os alunos recebem a comunidade para consultas –, é que existe um maior contato com os pacientes. É da rotina dos estudantes terem o número telefônico do paciente, para acompanhamento via mensagem, e nesse momento também acontecem os assédios.


Em outro caso de assédio, uma aluna conta que até mesmo recebeu mensagem pornográfica de um paciente via WhatsApp. Ao relatar aos professores, o paciente teria justificado que outras pessoas utilizavam o mesmo celular e que, portanto, a mensagem não teria sido enviada por ele. Nesse caso, a aluna precisaria seguir realizando o atendimento desse homem, sem que ele fosse retirado do credenciamento.


– Eu mandei uma mensagem no WhatsApp para marcar uma consulta. Ele me mandou uma figurinha pornográfica, e foi muito conturbado até que eu conseguisse me abster do atendimento. Houve opiniões contraditórias entre os professores sobre o que fazer nesse caso, porque alguns acreditaram nele, ficaram com pena, e queriam que o atendimento continuasse comigo. No fim, consegui remanejar o paciente para outro colega e não precisei mais atendê-lo – relata.


Professor afastado


Em 2017, um professor de Odontologia chegou a ser afastado devido a um caso de assédio com uma aluna. A vítima protocolou o caso em ouvidoria interna da UFSM junto à coordenação do curso. Questionados sobre o desdobramento, a gestão atual da coordenação disse não ter conhecimento desse caso.


– Eu fui constrangida na frente de colegas e pacientes. Na época eu era bem nova e não sabia como lidar com a situação. Lembro-me da vergonha que senti até mesmo para contar aos meus familiares. Pensei em largar o curso na ocasião. A universidade deveria ser um lugar de respeito e segurança. Foi uma frustração ter passado pela situação dentro de uma instituição de ensino, ainda mais por partir de um professor – diz a vítima.


Um quarto caso apurado pelo Diário envolveu outro professor do curso. Uma estudante conta que, durante atendimento em clínica, teria tido o corpo violado. Com o choque da ação, a aluna teve dificuldade de perceber e assumir que se tratava de uma situação de violência. O caso não chegou a ser denunciado.


– Eu fui pedir um auxílio para um professor e ele disse que já iria me ajudar, quando eu virei de costas para voltar para o equipo (cadeira de dentista) em que eu estava, ele deu um tapa na minha bunda. Na época, aquilo me incomodou profundamente, mas eu demorei um bom tempo para entender que essa situação se tratava de um assédio – desabafa.


Fonte: Diário de Santa Maria


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